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Adoro saltos altos.
Altíssimos, vertiginosos.
Adoro acabar o ritual de vestir-para-sair com o acto de escolher os sapatos. E quando os calço, lentamente quase saboreando, adoro aqueles saltos de 15 centímetros apoiados numa base de um centímetro quadrado.
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Adoro a sensação quase sensual que a altura me provoca, o pé ondulando a acompanhar a subida, o deslizar das ancas que, inevitavelmente, os saltos altos provocam ao caminhar.
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Pronto, assumo: sinto-me vamp. Sexy e segura. Os meus saltos de decímetro para cima são o complemento ideal da lingerie que só eu sei que estou a usar.
Parece tontice, mas é assim e pronto.
Adoro sapatos e saltos acima da linha de água, uso-os no dia a dia sempre que tenho de calçar algo e até os meus chinelos de quarto têm um discreto saltinho maroto.
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Mas pobre de mim coitada, se tenho de andar a pé na rua com os meus meninos.
Nesta cobertura infame de passeios que se chama calçada portuguesa...
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Diz a Wikipédia:
O mosaico português (ou pedra portuguesa, como é conhecido no Brasil, ou calçada portuguesa, como é conhecido em Portugal) é um determinado tipo de revestimento de piso, utilizado especialmente na pavimentação de calçadas e de espaços públicos de uma forma geral.
Consiste de pedras de formato irregular, geralmente de calcário, que podem ser usadas para formar padrões decorativos pelo contraste entre as pedras de distintas cores. As cores mais tradicionais são o preto e o branco, embora sejam populares também o marrom e o vermelho. Em Portugal, os trabalhadores especializados na colocação desse tipo de calçada são os mestres calceteiros.
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Bonita, não é?
Pena que só pode ser percorrida por turistas de ténis!
Onde andam os tais de mestres calceteiros?
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Com sorte, o aspecto da calçada é este:
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Está-se mesmo a ver o que acontece aos mais elegantes sapatinhos: temos de andar em pontas para não ficarmos presas nos buracos, o sapato deforma-se, a biqueira e o salto esfolados irremediavelmente...
E nós, gingando à pato. All the magic is gone.
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Mas se até aqui é só a minha vaidade magoada, o que dizer de todos os casos?
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Empurrar um carrinho de bebé? Nem pensar!
Cadeiras de rodas? Ficção!
Como se as mãezinhas e paizinhos e idosos e as pessoas com problemas de locomoção se tivessem de confinar ao recato e piso nivelado de lares e escritórios.
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Porque razão insistimos em usar este revestimento tipo tortura medieval, se depois as entidades competentes não cuidam dele?
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Há tradições que quando se tornam uma agressão quotidiana, devem ser repensadas.
Eu tornei-me completamente anti calçada portuguesa no dia em que o pai de uma colega, pessoa nos seus 60 anos e perfeitamente válida, me confessou que não ia à rua porque a calçada magoava os seus pés de diabético e o pobre encarcerado à força tinha receio (mais que justificado) de fazer feridas.
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Nem o facto de ter carregado com as minhas crianças ao colo enquanto bebés em subidas de equilibrista me revoltou tanto!
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A calçada portuguesa imobiliza pessoas que até deveriam andar a pé por razões de saúde, como se só punks e góticos de sapatos Caterpiller pudessem andar na rua!
Temos de calçar à drag-queen para conseguir caminhar em Lisboa.
Isto não se vê em mais nenhuma capital europeia!
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E pelos estragos que as últimas chuvadas fizeram por aí, suponho que as autarquias em breve criarão novos postos de trabalho, inaugurando unidades de produção do único calçado que resiste à triste idéia da calçada portuguesa:
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Nota: Ferraduras não incluídas, o seu custo é integralmente suportado pelo contribuinte. O produto da sua venda destina-se à contratação de detectives para se esclarecer o mistério da insistência em atafulhar de pedras as nossas ruas.
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