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Pois é, meus queridos Filhos.
A vida tem voltas, curvas e lombas que nos obrigam a trajectos que não queríamos, nem tinhamos pensado seguir.
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Mas quando ultrapassamos esses obstáculos, crescemos e enriquecemos a nossa força.
Eu sei, são líricas frases, "tretas dos cotas", emocionalmente correctas, mas é o que tenho de vos dizer.
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Desculpem meus amores, mas não posso incentivar a vossa frustração, agora que as duras realidades vos vão estilhaçando os dias da vossa adolescência.
Eu sei que neste momento está tudo baralhado, estão perdidos, não sabem em que acreditar.
Eu sei como vos custa a perda, a enorme perda da nossa família.
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Tantas dúvidas...Como vos compreendo...
Agora ficou claro que não têm duas casas: têm a vossa casa e a casa deles.
Ficou claro que o vosso pai vive plenamente a paternidade em segunda mão do enteado, enquanto vocês - os verdadeiros filhos - apenas têm direito a duas horas por semana.
Ficou claro que o vosso pai é pai-em-casa do filho dela, e pai ausente vosso.
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Sim, eu sei que há um espaço para vocês dormirem em sacos-cama no chão na casa deles, ao lado do quarto com casa de banho privada do filho dela.
Mas não há a vossa casa na casa deles.
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Também sei que o vosso pai comprou para ela o que sempre nos recusou: uma casa condigna.
Para nós ele deixou a casa de "jovem casalinho", velha e apertada, toda marcadinha dos traços da vossa infância, quase sem móveis...
Foi mau, pois foi, tanto mais que antes da separação o vosso pai andou connosco a visitar casas, a dizer-nos que íamos mudar quando, afinal, ele estava já à procura de casa para ela...
Se medir a vossa decepção pela minha...
Não fiquem tristes.
Eles têm uma casa nova, bonita e com janelas cheias de sol.
Mas a nossa casinha tem a vossa infância.
A nossa casinha tem amor e momentos felizes.
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Queridos, não tenho agora possibilidades de vos dar tudo o que merecem, tudo aquilo a que têm direito.
Tive de optar para garantir o vosso futuro e fui obrigada a dar ao vosso pai o dinheiro que serviria para mudarmos o nosso lar ...e ironicamente serviu para ele dar um lar à vossa madrasta e ao filho dela.
Mas já repararam que a nossa casinha ficou mais acolhedora?
Umas almofadas de cores vivas para compensar a falta de vida das janelas que não temos, uns cortinados de cores escandalizantes, mas, acima de tudo, o nosso riso.
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Amores, aqui há lar.
Lembram-se?
A nossa velha mesa dos almoços de domingo, em que vocês, adolescentes-aspiradores-de-comida, se sentam sôfregos e acabam queixando-se que a Mãe faz coisas a mais?
Aquele sofá já meio estalado, mas que todos disputam?
Os vossos travesseiros de bebé, onde já nem vos cabem as vossas lindas cabecinhas, mas que todos teimam em continuar a usar?
Os odores da própria casa, que são os nossos e os das nossas vivências?
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Meus queridos, nós temos um LAR.
Nunca se esqueçam disso.
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